As hipóteses que criamos tentando elaborar o movimento do outro... ah, esses labirintos de uma estranheza que conhecemos tão bem. Elas desviam dos fatos, sim, mas fazem algo ainda mais perturbador: expõem os fatores secretos de nossas próprias elaborações, como quem acende uma vela e descobre que iluminava não o quarto escuro, mas o próprio rosto refletido no espelho. Ele fez isso? Foi isso mesmo que ele quis dizer? O que digo quando escolho continuar chorando sozinho? E se eu perguntar, se me atrever a perguntar e ele me disser que foi ou que não foi... essa resposta simples será suficiente para quebrar os nós da minha impressão, ou apenas criará nós mais apertados? Porque a expressão das minhas interpretações, percebo agora, diz muito mais sobre meu ego procurando respostas de alívio, procurando alicerces onde talvez só devesse haver movimento. A dúvida... não será ela mais certeza do que o risco terrível de ser olhado pelo abismo que eu mesma olho? Arriscar chegar na desilusão pode ...
Estou em uma fase de despedaçamentos, e isso talvez seja o mais honesto que posso dizer sobre este momento que vivo. É como se cada pedaço de mim que se solta revelasse algo que sempre esteve ali, escondido sob as camadas do que eu acreditava ser. Me desconheço e me reconheço ao mesmo tempo, numa festa estranha onde cada passo para trás me leva adiante, onde cada fragmento que se desprende me mostra uma face nova do meu próprio rosto. Há algo de assustador e, ao mesmo tempo, de profundamente libertador neste processo... como se fosse preciso me desfazer para, enfim, me encontrar. As questões que emergem não são nada novas; talvez elas apenas esperavam, pacientes, o momento em que eu estivesse pronto para olhá-las de frente. A angústia que sinto não é inimiga, descobri. Ela é a companheira necessária desta travessia, a prova de que algo está acontecendo dentro de mim. Quando digo que acho que estou bem, não é que a dor tenha cessado ou que as incertezas tenham encontrad...