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A dúvida neurótica - poetizando

As hipóteses que criamos tentando elaborar o movimento do outro... ah, esses labirintos de uma estranheza que conhecemos tão bem. Elas desviam dos fatos, sim, mas fazem algo ainda mais perturbador: expõem os fatores secretos de nossas próprias elaborações, como quem acende uma vela e descobre que iluminava não o quarto escuro, mas o próprio rosto refletido no espelho. Ele fez isso? Foi isso mesmo que ele quis dizer? O que digo quando escolho continuar chorando sozinho? E se eu perguntar, se me atrever a perguntar e ele me disser que foi ou que não foi... essa resposta simples será suficiente para quebrar os nós da minha impressão, ou apenas criará nós mais apertados? Porque a expressão das minhas interpretações, percebo agora, diz muito mais sobre meu ego procurando respostas de alívio, procurando alicerces onde talvez só devesse haver movimento. A dúvida... não será ela mais certeza do que o risco terrível de ser olhado pelo abismo que eu mesma olho? Arriscar chegar na desilusão pode ...
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Despedaçamentos - Poetizando

Estou em uma fase de despedaçamentos, e isso talvez seja o mais honesto que posso dizer sobre este momento que vivo.  É como se cada pedaço de mim que se solta revelasse algo que sempre esteve ali, escondido sob as camadas do que eu acreditava ser. Me desconheço e me reconheço ao mesmo tempo, numa festa estranha onde cada passo para trás me leva adiante, onde cada fragmento que se desprende me mostra uma face nova do meu próprio rosto. Há algo de assustador e, ao mesmo tempo, de profundamente libertador neste processo... como se fosse preciso me desfazer para, enfim, me encontrar.  As questões que emergem não são nada novas; talvez elas apenas esperavam, pacientes, o momento em que eu estivesse pronto para olhá-las de frente. A angústia que sinto não é inimiga, descobri. Ela é a companheira necessária desta travessia, a prova de que algo está acontecendo dentro de mim.  Quando digo que acho que estou bem, não é que a dor tenha cessado ou que as incertezas tenham encontrad...

Permita-se a solidão - poetizando

Permita-se a solidão, a boa e velha solidão,   que não é a ausência do outro, mas o convite do eu,   onde no abrigo do silêncio, você pode ouvir com carinho   os sussurros dos seus próprios barulhos...   as vozes internas que não se calam,   que precisam ser ouvidas, respeitadas, ainda que não compreendidas. Fugir com prazeres imediatos traz sim um alívio,   como um doce fugaz que derrete na boca,   mas lembre-se: a contabilidade sempre chega.   E, na hora em que a noite se deita,   o travesseiro, fiel confessor, traz à tona   as dívidas que você acumulou consigo mesmo. A contabilidade do travesseiro é imperdoável. E é ali, no escuro acolhedor,   que as sombras se tornam mais nítidas,   e A QUESTÃO lateja mais forte que qualquer impulso efêmero. Então, escute a solidão não como um fardo,   mas como uma incrível amiga que te ensina, que afirma,   que o ma...

Não sei definir amizade - poetizando

Não sei definir amizade, mas acho que amizade tem muito sobre uma tentativas de alcançar a individualidade do outro. É uma busca silenciosa, onde nos vemos no que o outro alcança, numa dança tênue em que cada movimento revela algo pertenente à nossa própria essência. Somos, afinal, seres que, mesmo tentando construir coletivos, carregamos a substancial solidão de cada um. Somos um, mesmo quando em composições de dois, três ou mais. Aprendi isso na psicanálise lacaniana, e até ri dessa verdade tão crua e direta. Nesse impulso de tentar criar laços, é como se nos esculpíssemos através do olhar do outro... aquele olhar que nos escuta, que acolhe as partes mais fracas e, às vezes, com um toque de firmeza, nos exorta a ver além das nossas próprias ilusões, egoísmos disfarçados, fetiches do eu.  Me sinto muito só, mergulhando numa resignação sobre o que são as amizades. E preciso desse privilégio que é a solidão. Certamente, há muita gente por perto e a memória de algumas amizades incrív...

Não sei definir amizade - poetizando

Não sei definir amizade, mas acho que amizade tem muito sobre uma tentativas de alcançar a individualidade do outro. É uma busca silenciosa, onde nos vemos no que o outro alcança, numa dança tênue em que cada movimento revela algo pertenente à nossa própria essência. Somos, afinal, seres que, mesmo tentando construir coletivos, carregamos a substancial solidão de cada um. Somos um, mesmo quando em composições de dois, três ou mais. Aprendi isso na psicanálise lacaniana, e até ri dessa verdade tão crua e direta. Nesse impulso de tentar criar laços, é como se nos esculpíssemos através do olhar do outro... aquele olhar que nos escuta, que acolhe as partes mais fracas e, às vezes, com um toque de firmeza, nos exorta a ver além das nossas próprias ilusões, egoísmos disfarçados, fetiches do eu.  Me sinto muito só, mergulhando numa resignação sobre o que são as amizades. E preciso desse privilégio que é a solidão. Certamente, há muita gente por perto e a memória de algumas amizades incrív...

Ardor que me define me definhando - Poetizando

A velha lição helenista da filosofia cínica sussurra, como um grito distante, que a felicidade se encontra na renúncia, na arte de não possuir. É uma promessa velada que se apresenta como via para desvendar a angústia da ilusão da posse. No entanto, quem seria eu sem a intensidade das questões que valorizo? Aqueles dilemas familiares e anseios que, como raízes, se entranham em minha essência, tecendo a trama do meu ser. Há uma beleza inquietante em percepcionar que o preço da ataraxia, esse ideal estado de paz, parece ser o desprezo absoluto. Mas será o desprezo mesmo possível? Pode um coração pulsante abrigar a serenidade total, quando a vida é feita de nuances, de amores e desapontamentos que nos moldam com a força de um fogo que consome? Quem sou eu, senão um ser forjado na labareda da experiência, um pedaço vivo do ardor que me consome? O desejo e a frustração andam de mãos dadas, e é nessa ambivalência que a vida realmente pulsa. Cada paixão assume a forma de uma chama que não ape...

Talvez não era medo - Poetizando

Acho que tenho reorganizado os afetos, como se fizesse arrumações em um armário íntimo, onde guardo as lembranças e os desejos. Há um movimento sutil em mim, uma dança silenciosa entre a necessidade de me proteger e o arrobo de me entregar. Não é sobre o medo de te perder, mas sobre o inverno que, de repente, se instala em mim, gelado e palpável, na incerteza de um amor em que se respira a fragilidade e a força do que vivemos. O medo, ah, esse velho conhecido, parece simplesmente vestir-se de outras cores, outras formas. Talvez seja o receio de perder a memória, essa camada leve que acobre minhas fantasias onipotentes, onde cada carinho seu se transforma em uma constelação brilhante e radiante. Às vezes, sinto que não é insegurança, mas um zelo profundo, um guardião carinhoso da preciosidade do afeto que devo a ti, um afeto único, quase sagrado, que brotou como um acaso entre as dobras do cotidiano. A sorte indescritível de ter esbarrado minha história na sua, como se o universo estive...